Atrativos Culturais

A permanência das comunidades quilombolas no meio rural brasileiro tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelos seus líderes. O êxodo rural parece ter sido sempre a alternativa mais viável para famílias quilombolas que tiveram o seu modo de vida subtraído.
Com o objetivo de reverter esta situação foi criado em Monte Alegre o Grupo Bicho do Mato. Desde o ano de 2004 o grupo promove e coordena atividades de geração e distribuição de renda ligadas a preservação da cultura e do meio ambiente.  
Caxambu: de forma generalizada a alegria inata refletida na face dos afrobrasileiros é algo que transcende ao nosso entendimento. Mesmo em meio às dificuldades econômicas ou de saúde é notória em cada quilombola uma alegria que não é efêmera.
O estado de alegria e satisfação dos quilombolas de Monte Alegre é algo muito subjetivo e difícil de ser mensurado. Porém, nada pode ser comparado ou fica mais evidente ao sentimento de alegria expresso pelos negros (ainda na condição de escravos) quando mesmo depois de um exaustivo dia de trabalho ainda encontravam forças para reunirem-se a noite, erguer uma fogueira, e ao redor dela dançarem o caxambu até altas madrugadas.
O caxambu é uma dança de origem afrobrasileira praticada em Monte Alegre desde meados do século XIX. Através de versos cantados denominados de jongos acompanhados pela batida ritmada dos tambores, os negros expressavam de forma indireta sentimentos e acontecimentos que normalmente não poderiam ser publicamente declarados em outros momentos.
EX: “plantei café, oh! Gente nasceu Guiné”; (2x)
“Tem homem sem vergonha que não trata da mulher”. (2x).
Para perpetuar o caxambu há em Monte Alegre dois grupos que participam desta dança tradicional. Um deles é formado por adultos e liderado pela mestra Maria Laurinda Adão, o outro é formado por crianças e adolescentes que fazem parte de uma ONG local chamada Projeto Nossa Criança – Monte Alegre.  Freqüentemente as apresentações ocorrem em datas comemorativas ou para grupos visitantes organizados a partir de 10 pessoas.
Dança afro: utilizando-se de coreografias os componentes desta dança expressam atividades (lavar roupas, socar mantimentos no pilão, colher café) do dia-a-dia dos quilombolas. O grupo é basicamente composto por adolescentes e as apresentações ocorrem para grupos visitantes organizados a partir de 10 pessoas.
Capoeira: o grupo é formado por adolescentes e crianças quilombolas a partir dos 7 anos de idade. Assim como ocorre nas outras atividades culturais (caxambu, dança e teatro) para se tornar participante do grupo de capoeira é necessário que o interessado esteja devidamente matriculado em uma escola regular.
Teatro Cultural: utilizando-se da dramatização o grupo de teatro cultural retrata o dia-a-dia dos negros que foram escravizados na Fazenda Monte Alegre.
História Oral: o principal pilar da cultura quilombola é a história oral, pois somente através dela os conhecimentos herdados dos ancestrais poderão ser transmitidos as gerações futuras.
Todo e qualquer lugar era apropriado para os nativos contarem causos; porém em Monte Alegre nenhum espaço era tão sugestivo e congregava tantos interessados neste tipo de história como o Pau da Mentira.
Apesar de ser um local exclusivamente para “reuniões“ informais de pessoas do sexo masculino, o Pau da Mentira, foi durante muitos anos uma referencia para a perpetuação da história oral da comunidade.
Ao lado da vendinha de um quilombola chamado José Marcelino Ventura havia uma comprida torra de madeira onde religiosamente, todos os dias, ao anoitecer, se sentavam diversos rapazes quilombolas para contarem causos antigos ou ocorridos no dia-a-dia.
Como alguns causos tinham sua realidade duvidosa o local passou a ser denominado de “Pau da Mentira”.
Infelizmente, pouco ou quase nada há disponível de literatura, em relação a cultura quilombola brasileira, por este motivo a história oral ainda é a principal ponte de ligação entre o passado e o futuro das famílias afrobrasileiras que compõem as comunidades rurais quilombolas.
Para amenizar esta situação os lideres da Comunidade Quilombola de Monte Alegre estão tendo o cuidado de repassar o conhecimento oral as crianças e adolescentes da comunidade, além de resgatar, registrar e guardar todo o material (fotografias, jornais, revistas, artigos científicos e documentários), disponível em relação a sua história antiga e atual.
Assim como no passado, falar da história de Monte Alegre para o visitante é na atualidade um motivo de alegria e orgulho para os seus lideres. Relembrar os feitos de seus ancestrais; contar causos e trazer a memória até mesmo os momentos de dificuldades vivenciados por aqueles, parece fortalecer a identidade cultural local.